Com mais de 60 anos de existência, o Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira é um exemplo único na história do movimento estudantil brasileiro. Ao longo dessas seis décadas, o CAASO foi ao mesmo tempo palco e agente das maiores transformações da sociedade brasileira. Conheça, por décadas, um pouco da nossa história.
Documentário “Um CAASO a ser contado – O Centro Acadêmico durante a ditadura”
Fundação – Década de 50
Em 1953, por meio do apoio político de figurões políticos sancarlenses foi fundada a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Pouco depois, a partir da necessidade de se ter uma entidade representante dos estudantes de graduação do campus foi que se estruturou o Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO), em 22 de Abril do mesmo ano, fundado pelos estudantes das primeiras turmas de engenharia.
Fundado para representar os estudantes do campus na defesa pela educação pública e qualidade do ensino, o CAASO teve a partir de então uma atuação fundamental na história do campus São Carlos e da história da política nacional. A princípio, o CAASO representava somente os estudantes das engenharias civil, mecânica e elétrica, os primeiros cursos da EESC. Todavia, com a criação de outras unidades e cursos, sua base cresceu e ele foi mantido como a entidade estudantil unificada de todos os estudantes do campus de São Carlos.
Ainda no seu primeiro ano de existência o CAASO aderiu à greve geral dos universitários brasileiros contra o atentado físico sofrido por universitários de Goiânia e Aracajú. A mobilização feita por 48 horas foi a primeira de muitas grandes mobilizações produzidas pelo Centro Acadêmico ao longo de sua história. Em meio à crise política vivida pelo país em 1954, o CAASO lançou-se na campanha em defesa do cumprimento da constituição – convocando o povo e as forças armadas a lutar pela preservação da Carta Magna. Os anos seguintes não foram diferentes e o centro acadêmico não fugiu à luta.
Década de 60
Em seguida, ainda viria, na década de 60, um dos processos históricos mais marcantes pelo qual passou o CAASO. Com a renúncia do presidente da república Jânio Quadros os militares e outros setores da sociedade não queriam deixar o então vice-presidente João Goulart assumir o seu cargo de direito. Sob esse contexto o CAASO entrou em greve em agosto de 1961, reivindicando que a Constituição de 1946 fosse obedecida.
Em 07/10/1963, realizou-se uma Assembleia para tratar do tenso momento político nacional que produziu um manifesto intitulado “CAASO contra o golpe”, além de realizar uma greve estudantil. Todas as manifestações que previam o golpe em 63 estavam certas, e a 1° de Abril de 1964 os estudantes se reuniram em assembleia com o golpe militar em vias, e entraram em greve.
O CAASO foi o primeiro CA a entrar em greve e o último a sair dela. Não tardou e tiveram início as medidas repressoras do governo: foram feitas tentativas de extinguir os centros acadêmicos e diretórios estudantis e foram extintas as representações discentes nos órgãos administrativos.
Década de 70
A década de 70 foi marcada pela luta do CAASO contra o ensino pago que, com um documento aqui escrito, causou repercussão nacional e foi encampado pela grande maioria dos centros acadêmicos do país. Além disso, a década foi marcada por atividades culturais, educacionais e recreativas com a participação de todos os alunos do Campus e moradores de São Carlos.
Em 73, o CAASO dribla a mais feroz censura existente no país expondo no Jornal Mural, todas as notícias que não saíram nos outros jornais.
Em 1974, O CAASO participa ativamente da reconstrução da UNE, sediando as principais reuniões de entidades, que não podem ser feitas em outros locais, em razão da repressão; a gráfica do CAASO colabora com quase todas as entidades estudantis do Estado e outros organismos que combatem a ditadura militar, imprimindo a preço de custo seus impressos.
Ocorre uma nova greve, em 1975, na qual os alunos do Campus reivindicavam que o COSEAS (Coordenadoria de Assistência Social da USP, Atual Superintendência de Assistência Social – SAS) concedesse 126 bolsas de alimentação que estavam sUSPensas; greve vitoriosa.
Década de 80
A década de 80 segue com lutas ferozes contra a ditadura militar, por eleições livres e democráticas, pela instalação de uma Assembleia Constituinte livre e soberana.
1985 foi um ano de lutas e reflexões sobre a constituinte; campanha pelas eleições diretas para reitor da Universidade; luta por uma reforma universitária que melhore as condições de ensino e pesquisa.
Em 1987, houve paralisações e manifestações contra o reitor da USP, na ocasião professor José Goldenberg; luta por um novo alojamento; luta por verbas para a educação.
Década de 90
Luta pela universidade voltada aos interesses nacionais, pública e gratuita.
Luta por melhores condições de ensino e mais verbas para educação.
Reorganização administrativa do Centro Acadêmico; luta por melhores condições de ensino e pesquisa.
Década de 2000
Nos anos 2000, o CAASO teve grandes perdas no que se refere à sua infraestrutura, após sofrer golpes de diretores que venderam a Gráfica do CAASO e embolsaram o valor recebido e o dinheiro destinado ao FUBE (Fundo Universitário de Bolsas Estudantis – gerido até então pelo próprio CA para prestar assistência aos estudantes que precisavam de auxílio de permanência estudantil).
Em contrapartida, o CAASO seguiu sua luta e mobilizações por assistência estudantil, democracia na Universidade e pela qualidade do ensino. Houve três grandes greves na USP (em 2002, 2004 e 2007), das quais a de 2007 foi preponderante a participação dos estudantes do CAASO em todo processo de mobilização pela autonomia universitária, democracia interna na USP, além de melhorias e garantias nas práticas de permanência estudantil.
Década de 2010
Estamos ainda no início de uma nova década, década que já começa agitada, e o CAASO não se omite frente às questões que aparecem. Questionamos estrutura de poder da USP, sua falta de democracia, o papel da Universidade e sua relação com a sociedade, bem como a gestão Rodas. Os estudantes do CAASO percebem uma real necessidade de diálogo com a sociedade. Portanto, convidamos todos a continuar se inteirando dos assuntos, para que no início do ano possamos retomar nossas reivindicações por uma Universidade pública, democrática, acessível e que se referencia na sociedade.
Em 2013, ano no qual o CAASO fez 60 anos de história, tivemos uma participação muito importante na greve estudantil, da qual saímos com muito vitoriosos em nossa luta pela permanência e pelos direitos dos alunos. Avançamos muito em nossas lutas no último ano, mas ainda estamos longe de conseguir a vitória absoluta.
Esperamos que neste ano, e a partir dele, fortaleçamos o CAASO, seus grupos e atividades, cada vez mais, além de reativar alguns grupos importantes da nossa história, como o grupo de Silk, e o MACACO (Movimento Artístico e Cultural do CAASO). Promover espaços culturais, de integração e politização, organizados coletivamente pelos e para os estudantes sempre foi o que o CAASO fez para ter se tornado um importante polo de formação de cidadãos críticos, ativos e participativos no cotidiano da universidade, da cidade e do país. E é retomando e avançando na nossa história que pretendemos seguir fortes, como um Centro Acadêmico de grande referência no país, no seio do qual, grandes homens e mulheres vem fazendo história dentro e fora da Universidade.